Zé não sabe o que quer dizer “aquecimento global” mas conhece bem as mudanças nas estações e o seu impacto na vida de Elalab, uma comunidade no Norte da Guiné-Bissau em risco de desaparecer.
Do passado, há coisas de que Zé se lembra e outras não. Lembra-se de que quando era jovem chovia muito, os terrenos perto da sua casa estavam cobertos de plantações de arroz, as crianças faziam barulho, havia várias espécies de peixe e não faltava comida.
Não se lembra da Época das Chuvas ser tão quente, não se lembra do mangal e da água salgada chegarem tão perto das casas – deixando os terrenos estéreis – , não se lembra de alguma vez ter tão vazio o depósito onde guarda o arroz. Também não se lembra de ver tão poucas crianças e jovens a brincar no areal de Elalab.
Elalab é uma tabanca Felupe na costa Norte da Guiné-Bissau com 435 habitantes. Zé é um dos homens mais velhos da comunidade. As suas memórias representam as lembranças, os anseios e as angústias colectivas.
A vontade de contar a estória de Elalab e de todos os que ali vivem nasceu depois de, em 2015, os Bagabaga Studios , cooperativa que detém a Divergente, terem produzido um pequeno documentário para a ONGD Monte. Rapidamente percebemos que havia uma estória para ser contada. E foi isso que fizemos. Somos frequentemente alertados para os perigos do aquecimento global, mas raramente confrontados com os seus efeitos prácticos. “O Zé quer saber porquê” mostra como o aquecimento global é um problema com rostos.
Publicado a 31 de Dezembro de 2019